segunda-feira, 29 de julho de 2013

Marcha das Vadias: uma vida de silêncio forçado, um grito ensurdecedor.

Tape os ouvidos. Ele será cada vez mais alto. Marcha das Vadias só parece cruel e escrachado, por que aponta a crueldade de forma escrachada. E desculpa avisar moralista, mas a crueldade é feia. Muito mais do que as vadias, segundo o seu padrão arbitrário de beleza, usado como argumento para deslegitimar uma causa política. 

O porquê da Marcha das Vadias ser necessária? 

Porque o machismo está em absolutamente todos os setores sociais, ideológicos e acredito que todas as culturas. Estava na Marcha das Vadias, em Copacabana, no dia 27/07. A marcha concentrou as 13h, e durou por completo, com revezamento de grupos, até umas 23h. Por volta das 20h fomos impedidos de nos aproximar da jmj por um cordão do exército e ficamos agrupados na praia. Nesse momento percebi um grupo de meninos num estilo Cone Crew, que ficavam constantemente arroizando as mulheres. Até aí tudo bem, era levemente incomodo, mas eles estavam juntos com a marcha e apoiavam e gritavam as palavras de ordem das vadias, em defesa da autonomia da mulher sobre seu corpo. 

Não sei quando, nem porque, o cordão do Exército afrouxou, e a Marcha adentrou Copacabana, onde pessoas do evento católico estavam em grande quantidade. Os gritos eram pela legalização do aborto, pela separação Estado e fé, pelos gastos públicos com o evento religioso, pela autonomia feminina, pelos direitos lgbts, pelo fim da Polícia Militar, pela saída do Cabral, pelo fim da violência policial que assassina nas favelas, contra momentos históricos de extermínio de povos e culturas pela Instituição e PASMEM, por valores que Cristo também pregou - AMOR. 

Infelizmente a hostilidade foi inevitável, e fundamentalistas moralistas horrorizados com peitos femininos desnudos e beijos e trocas de afeto entre pessoas do mesmo sexo, resolveram oprimir gritos por liberdade com rezas, insinuando que manifestantes estariam possuídos por Satanás, já que pregavam liberdade sexual, prazeres carnais, direito de escolha... A manifestação respondeu com a falta de respeito mais do que legítima por uma instituição que massacrou tudo que considerou anti-paroquial e uma afronta a moral e aos bons costumes cristãos na história da humanidade. Os manifestantes gritavam "vou morrer na inquisição" porque assim seria se esta fosse nos dias de hoje. E assim ainda é, de forma velada, tendo em vista a dura perseguição pessoas que os performers da marcha estão sofrendo, a violência aos lgbts, a violência contra a mulher e o extermínio de povos indígenas e de terreiro... e por aí vai. 

Durante  a marcha, para além do confronto peregrinos x manifestantes, muitas cenas foram emblemáticas para caracterizar a necessidade dos gritos da Marcha. Um senhor passou de bicicleta e gritou para o cordão policial "METE A PORRADA NESSES VIADO E NESSAS PIRANHAS", e vi ele sendo aplaudido e arrancando risos dos policiais, inclusive mulheres. Em um momento da Marcha precisei parar em uma padaria para comer, e a marcha passou. Quando corria atrás dela com minha amiga Anaterra, as duas mulheres, sozinhas, com nossas roupas de vadias (alias, somos ambas atrizes, profissão que sempre gosto de lembrar, até anteontem era vista exatamente como PUTA pela sociedade) e batons vermelhos, fomos, as duas que minutos antes gritávamos no amparo da multidão por direito de ir e vir, de se vestir como quiser, contra a violência sexual e a objetificação da mulher, ABSURDAMENTE invadidas por abordagens agressivas em quanto caminhávamos. Dessa vez sozinha, os gritos que em grupo eram vomitados, e abraçados, tornando-os possíveis e seguros, foram calados, e deram lugar ao medo, e a necessidade de correr, para novamente podermos gritar a liberdade sobre nossos corpos. 

É óbvio que ouviríamos que não poderíamos estar ali, sozinhas, vestidas como estávamos, se falássemos sobre isso. A sociedade ensina a mulher a não ser estuprada, porque se ela não cumprir esses ensinamentos, não poderá reclamar quando acontecer. Outro, e talvez o maior dos emblemas para mim foi quando, ao fim da marcha, os "meninos Cone Crew" que flertavam incessantemente, mas gritavam palavras junto conosco, nos ofereceram pipoca. Em um momento de exaustão, depois de 10 horas de marcha, com fome e sede, perguntei para um deles se havia acabado a pipoca que nos ofereceram. A resposta que tive que ouvir me pareceu uma mentira, uma brincadeira de mal gosto - e de fato foi- mas que não parecia real, dado o contexto. Ele, que estava acompanhando toda a marcha feminista, me respondeu "minha pipoca têm LSD, estou drogando vocês vadias para me aproveitar". 

Com a dispersão da marcha, e sem os meus amigos próximos, tendo em vista que tinha me afastado deles para me dirigir a esse menino, considerando-o um companheiro de luta, não consegui reagir a fala dele. Dizer que fui tomada por medo seria muito vitimista, mas certamente fiquei surpresa e horrorizada com uma brincadeira sobre estupro ALI. Mais uma vez na vida,me senti incapaz de responder, e após o comentário de teor agressivo, silenciei. Depois de 10 horas de grito, me vi novamente calada. Naqueles gritos e atos, estava todo o silêncio diário, sufocado. Que não nos deixa respirar tantas e tantas vezes ao longo da vida. Que nos deprime, que nos apaga, que nos excluí, que nos recolhe em casa, que nos tira o direito de nos pertencer, que nos tira o direito de escolher, que nos reprime e amedronta se tentarmos ser livres, que nos "coloca no nosso lugar", que diz qual é nosso lugar, aonde devemos ficar e aonde não devemos ir. O que pode acontecer se desafiarmos essa ordem social. 

Naqueles gritos estavam toda a dor direta e indireta, pessoal e histórica, que nos fizeram sofrer simplesmente por sermos mulheres. Uma em cada 4 mulheres que você conhece vai ser agredida ao longo da vida. Então agora pare e despragmatize essa informação! Faça o exercício doloroso de pensar em 4 mulheres conhecidas, e pensa que no mínimo 1 delas já foi agredida POR SER MULHER. Não estamos falando de violência como a que todos estão vulneráveis. Nessa estática não entra TODA violência contra uma mulher, mas toda violência cometida contra uma mulher por ela ser mulher. Sacou a diferença? O corte de gênero? 

Sério, se você tem empatia e solidariedade nesse coração, mas ainda questiona as necessidades do movimento feminista, sugiro que pesquise e reflita sobre isso. Eu já fui violentada, e ao abrir isso fui despragmatizando as estáticas, descobrindo a quantidade de companheiras, de amigas, de pessoas da família que passaram por experiências similares. E essa quantidade é absurdamente maior do que o silêncio das mulheres, envergonhadas e culpabilizadas pela violência, pode te permitir ter acesso. Mas estranhamente, é nessa compreensão enraizada, nessa conexão através da dor, que nos amparamos, e nos fortalecemos. E decidimos apaziguar os medos umas das outras, e torna-los combustível de luta. Fazer do silêncio lancinante o grito que corta as almas, os corações e os paradigmas sociais. Juntas vamos ocupar todos os espaços que nos foram impedidos, vamos cuspir tudo aquilo que nos forçaram a engolir, vamos reverter em coragem, todo o medo que nos impuseram. E saiam da frente. Porque essa passagem vai ser forte. E vai doer. Em nós e em todos. Mas vai transformar. 

Por último gostaria de lançar a ideia que tenho, de que todos aqueles que agora espumam de raiva e moralismo diante da performance que quebrou imagens e insinuou sexo com objetos religiosos, pedindo a crucifixão dos responsáveis, certamente estavam e estariam na praça para ver as bruxas, os ciganos, os ateus, os diferentes e os que contestam sendo queimados, enforcados, guilhotinados. Fizeram e fariam isso em clima de festa. Celebraram e celebrariam a inquisição. E sem dúvida alguma, são os mesmos que pediram e celebraram a morte de Cristo. Afinal, Cristo foi contestador e libertário, e isso é absolutamente proibido para estas pessoas. 

Fundamentalista ignorante e opressor, ao apontar a violência de Estado, a opressão institucional, a mercantilização da fé, a corrupção do homem e até ao beijar outra mulher, estou muito, muito mais perto de Jesus do que você. 

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Publico aqui doc que elaboramos no ENPOP

ENCONTRO POPULAR SOBRE SEGURANÇA PÚBLICA E DIREITOS HUMANOS

Violências de Estado no Rio dos Megaempreendimentos

CARTA FINAL


"Nos dias 12, 13 e 14 de julho, militantes, movimentos sociais do Rio, São Paulo e Salvador, estudantes e pesquisadores, organizações políticas e de direitos humanos, moradores de favelas, periferias e comunidades pobres impactadas por intervenções militares, pela violência policial, por grandes reformas urbanas, pelos megaempreendimentos e pelos megaeventos, estiveram reunidos no “Encontro Popular sobre Segurança Pública e Direitos Humanos: Violências de Estado no Rio dos Megaempreendimentos”.Debatemos coletivamente as diferentes formas de violência praticadas pelo Estado no contexto de consolidação de um modelo de desenvolvimento que impõe uma cidade privatizada e militarizada.

O encontro, planejado desde dezembro de 2012, ocorreu no contexto das diversas manifestações que tiveram início com o questionamento acerca das políticas de mobilidade urbana e aconteceram em todo o Brasil a partir de junho de 2013. Intensifica-se nas ruas a contestação das opressões e violações históricas, que atualmente se traduzem no desenvolvimento de ações do Estado de controle e extermínio dxs pobres e negrxs, de ampliação da gestão militarizada da cidade, de encarceramento em massa, de processos de despejos de ocupações sem teto e remoções de favelas, de higienização dos espaços públicos, de criminalização da resistência popular, e em políticas públicas conservadoras e privatizantes. A lógica das ações do Estado orienta-se, portanto, não para a construção de políticas públicas democráticas, emancipadoras e de proteção da vida, mas para a satisfação e garantia dos interesses dos grandes negócios. Nessa conjuntura, essas ações são realizadas com o pretexto de garantir a concretização de megaempreendimentos e a realização dos megaeventos.

Nesse contexto, a construção de espaços coletivos e horizontais para articulação de estratégias de resistência, não é apenas necessária, mas urgente. É central fortalecer a organização a partir daqueles que são diretamente atingidos pela lógica de exploração e opressão, potencializar os espaços historicamente construídos e produzir novas formas de agir coletivamente frente à reconfiguração do mundo do trabalho no campo e na cidade.

A mídia hegemônica é um dos grandes instrumentos para a legitimação da violência, da precarização da vida e da discriminação de negrxs, pobres, nordestinxs, mulheres, LGBTs, movimentos sociais e moradorxs de favelas e periferias. É necessário, portanto, valorizar a contrainformação que vem da mídia independente e das redes sociais como forma de resistência e lutar pela democratização dos meios de comunicação. Fortaleceremos, assim, uma rede autônoma de denúncias de violações, solidariedade e proteção entre nós mesmxs.

Nos últimos anos, assistimos a intensificação de um modelo econômico cujo objetivo é afirmar o território urbano e rural como uma arena de oportunidades de negócios para o mercado global, onde a própria vida se torna mercadoria. Este processo está transformando profundamente a cidade, projetando-a a partir de um olhar militar que desenha os corredores de segurança – verdadeiros corredores de controle – e aldeamentos de obediência para garantir o fluxo das mercadorias e proteger as áreas de investimento do capital. Assim, o Rio de Janeiro é repartido em áreas privilegiadas, territórios descartados e zonas de sacrifício. Exemplos desse processo são a construção do Complexo Portuário do Açu, a instalação do COMPERJ e da TKCSA, a construção do Porto Maravilha e as remoções realizadas de forma direta ou indireta através da especulação imobiliária que aumenta o custo de vida em diversas áreas. É importante ressaltar que as remoções são impostas sem diálogo e afetam prioritariamente as favelas e as populações que historicamente as construíram (nordestinxs, negrxs e trabalhadorxs pobres), os indígenas e os povos tradicionais, que são reassentados em loteamentos sem condição de moradia adequada.

Nesse processo de transformação da cidade observa-se a mercantilização da cidadania, dos espaços e das políticas públicas. Importante exemplo desse fenômeno é a intensa privatização das políticas de saúde, com a gestão de serviços sendo entregue a Organizações Sociais, com a recente aprovação da criação da empresa “Rio Saúde” e crescente investimento público nas Comunidades Terapêuticas para internação de usuários de drogas. Constata-se o avanço do conservadorismo religioso no direcionamento e execução de políticas públicas, a serviço de uma lógica privatista e do lucro. O conservadorismo religioso opera de forma transversalizada na repressão das diversidades e dos desejos. Está presente nas políticas sobre drogas, mas impacta também a luta das mulheres, de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais.

Entre xs atingidxs pela retirada de direitos, xs que mais sofrem com esse processo e com a discriminação são os gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais, mulheres, povos de terreiros, indígenas, quilombolas, povos tradicionais, pessoas com deficiência, jovens e negrxs. As opressões contra estes grupos se agravam pela lógica machista, homofóbica, racista, proibicionista, e patriarcal de nossa sociedade. Precisamos aprofundar e transversalizar estes debates, inclusive nos próprios espaços de luta que também reproduzem relações desiguais.

A respeito do debate sobre as políticas de drogas, afirmamos que a chamada “guerra às drogas”, além de representar retrocesso na luta antimanicomial, se constitui como dispositivo de controle social, criminalização e extermínio de pobres e negrxs. As ações de recolhimento e internação compulsória de crianças e adolescentes, assim como da população adulta em situação de rua, fazem parte do processo de higienização e elitização da cidade. Marco significativo é o projeto de Lei Complementar 37 do deputado federal Osmar Terra, que tem desastrosos impactos para a saúde pública e na ampliação do controle penal do Estado. Entendendo a “guerra às drogas” como justificativa para políticas de controle e extermínio, apontamos a necessidade de descriminalização e legalização das drogas, acompanhadas do fortalecimento de políticas de saúde pública e de conscientização sobre seu uso problemático. Afirmamos estes como passos fundamentais para a superação do quadro de violações trazido pelo proibicionismo.

É necessário conter o avanço punitivo do Estado que fortalece o controle das populações através da ampliação das categorias consideradas inimigas e que legitima práticas de repressão violenta a partir do discurso de garantia da ordem e da defesa da sociedade. Esse poder punitivo violador, cuja mais grave representação localizamos na atuação policial, opera-se também em perversas práticas do Poder Judiciário e do Ministério Público. Um dos efeitos mais drásticos do controle penal verifica-se no encarceramento em massa, tendo o Brasil hoje a quarta maior população carcerária do mundo. A lógica seletiva e racista dos encarceramentos atravessa os diversos espaços de privação de liberdade (sistema prisional, sistema socioeducativo, manicômios e abrigos) caracterizando um processo de segregação, isolamento e controle de populações marginalizadas pelo capitalismo. Dentro do projeto de transformação radical da sociedade é imperativo superar essa realidade que impõe para uma enorme parcela da sociedade a violação de direitos mais elementares e práticas cotidianas de tortura. Nesse cenário, repudiamos de forma veemente a tentativa de redução da maioridade penal e de aumento do tempo de internação para adolescentes no sistema socioeducativo. Igualmente, denunciamos a ameaça da lei antiterrorismo, que surge no sentido de criminalizar as lutas e resistências.

Com relação às políticas de segurança pública o debate sobre a desmilitarização é prioritário e urgente. A lógica militar impõe a perspectiva da guerra e do confronto bélico na qual há um território a ser ocupado e um inimigo a ser combatido. Os territórios em questão são favelas e periferias e o inimigo, as classes populares. A gestão militar da segurança pública afirma-se nas históricas operações e invasões policiais justificadas pela “guerra às drogas” com caveirões e outros aparatos de guerra – como na chacina ocorrida no dia 24 de junho na Maré, com mais de dez mortos, em meio às manifestações do período –, na expansão das milícias sobre as regiões periféricas da cidade, configurando um controle “paramilitar” dessas áreas que traz formas específicas de privação de direitos, e na implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

As UPPs não são um modelo alternativo de segurança pública, mas sim uma prática policial nova que se articula ao velho modelo de gestão militar da pobreza urbana, sendo uma estratégia central do Estado na garantia do processo de privatização da cidade. A UPP opera como controle militar do cotidiano e da vida, dos espaços públicos, da juventude, da circulação, da livre comunicação e produção cultural nos territórios. A “política de pacificação” intensifica a segregação, submetendo os debates sobre políticas públicas ao debate da segurança e afirmando a favela como um território a ser neutralizado. Para pôr fim a este quadro de violações, acreditamos que é necessário acabar com a militarização dos territórios da cidade, como é o caso das UPPs. Queremos que o Estado esteja presente nas favelas a partir da garantia ampla, efetiva e eficaz dos direitos de seus moradorxs e não com a militarização do cotidiano e da vida destes locais.

No contexto da escalada do uso da força repressiva pelo Estado, consideramos que as armas menos letais, em lugar de diminuir seu poder bélico, o intensifica. São alvos privilegiados desse aspecto da violência estatal os camelôs, manifestantes e população em situação de rua.

Afirmamos a necessidade da desmilitarização imediata da segurança pública. Para tanto, é central compreendermos a articulação das violências de Estado do presente com as violações históricas do estado brasileiro, do genocídio dos povos indígenas e originários, do massacre representado pela escravidão da população africana sequestrada e seus afro-descendentes neste território, à opressão continuada de trabalhadorxs em êxodo forçado pelo capital, assim como todo o período mais recente da ditadura civil-militar no Brasil. O esclarecimento sobre a violência institucional praticada nesses períodos, a luta pelo direito à memória, à verdade, à justiça e à reparação desses crimes históricos (o genocídio indígena e africano, os crimes da ditadura civil-militar, Carandiru, Candelária, os Crimes de Maio, os Crimes da Polícia da Caatinga baiana, o massacre Guarani Kaiowá em pleno estado democrático nos dias de hoje, entre outros),são etapas necessárias para a superação do quadro atual.

Todas as pautas apontadas nessa carta são necessárias e urgentes. Esbarram, no entanto, no limite do modelo de segurança pública instituído nos marcos do Estado capitalista que por natureza é repressivo. Por isso apontamos a necessidade da construção de formas de poder popular na luta pela superação do sistema capitalista.

Considerando os principais desafios colocados pelo atual contexto político, o Encontro Popular sobre Segurança Pública e Direitos Humanos formulou, a partir de suas discussões, diretrizes e propostas, sistematizadas em seu Caderno de Resoluções."

Obs: O Documento foi escrito, lido e corrigido em coletivo. Apenas expressões que tivessem o consenso absoluto no debate da plenária final do encontro fazem parte desta redação.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Mídia: para morto na favela não tem luto, mas para banco e loja no Leblon elabora-se?

Cara, eu acho INACREDITÁVEL que a mídia tenha exibido o dono da Toulon chorando lágrimas de prejuízo, dizendo que nunca viu tamanha maldade na vida, e que depois disso as pessoas não deem gargalhadas, ou não desliguem a TV. Eu acho inacreditável que a mídia parece intencionalmente ignorar o fato das roupas da loja saqueada terem sido distribuídas para moradores de rua. Eu acho inacreditável que se elabore uma espécie de luto em relação aos danos materiais no Leblon, sem relacionar que os bancos quebrados são patrocinadores da opressão, patrocinadores de eventos que violam os direitos a moradia e a vida, que usam mão de obra escrava em obras de construção de agências, e após investigação não são responsabilizados de indenizar. Que pagam pelo despejo de povos e comunidades inteiras, e pela constante ameaça de morte que os resistentes sofrem. Que pagam por milícias e jagunços que massacram esses resistentes que lutam por moradia. Eu acho inacreditável que uma chacina tenha acontecido na Maré(!), um trabalhador da Rocinha esteja desaparecido(!), e sua família esteja sob ameaça de morte por se articular para dar visibilidade ao caso(!), e ainda consigam convencer o mundo, de que malvado e desumano é o Black Bloc e suas ações de libertação de todas essas formas de opressão. Aliás, eu acho incrível que a palavra MASCARADOS consiga ser proferida por JORNALISTAS. Como se essa não fosse uma profissão que conhecesse bem a perseguição e a necessidade de proteção do anonimato para garantir a própria integridade. É absolutamente descarado, o fato de que conhecem a real razão do uso de máscaras, mas estão ignorando ela, para poderem criminalizar alguma parcela do movimento. A pauta é criminalizar uma parte dos manifestantes, e separa-los, deixando claro que não existem uma unicidade de ação em relação ao "vandalismo", mas que não precisa existir, porque uma vez a presença de "vândalos", a repressão policial se faz necessária e justificável. Repressão esta que eles, que só veem do céu chamam de "ação", mas que nós, que estamos na terra sabemos que é uma instauração do terror, um dominó com suas motos, uma postura de quem não teria pudor em matar, e que ainda estaria fazendo isso rindo, com prazer. Sabemos que isso não é ação de contenção nem nesse, nem em outro mundo reinventado. Alias, reinventemos um outro mundo, com democratização da informação, para que eles não tenham mais espaço para suas distorções da realidade.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Sobre os protestos no casamento de neta de Jacob Barata em 14 de julho

Na boa mundo, que se f#*;@ a festa de casamento da Baratinha! Não existe nenhum mal no protesto no casamento, ainda que essa seja uma festa da vida privada. Protesto nos casamentos dessas pessoas não é NADA! Protesto bem-humorizadíssimo por sinal. Protestos recheados de criatividade e simbolismo. Um dos símbolos aliás, é a referência histórica, dos protestos no casamento terem ocorrido na madrugada de 14 de julho. Data da Tomada da Bastilha, tomada de poder pelo povo e pela burguesia na Revolução Francesa. Revolução que cuminol na elaboração constituinte do primeiro documento de Direitos Humanos. 

E será constrangimento é ter um casamento marcado por protestos? Constrangimento é o empurra-empurra diário nos ônibus lotados, os assédios propícios no transporte público, as condições de trabalho nesse setor, a dupla-função motorista cobrador que exige o raciocínio matemático, a manipulação de dinheiro e a direção, tudo ao mesmo tempo, colocando a vida de milhares de usuários e trabalhadores do transporte público em risco todos os dias. O motorista que trabalha horas sem poder ir ao banheiro, isso é constrangimento! Que se foda o casamento do opressor, a vida privada dele tem mais é que ser interditada pela revolta que ele provoca. 

O corrupto, opressor, têm que se constranger por viver de reproduzir práticas de opressão, exploração e violação. Ele é responsável por um modelo de sociedade excludente. Se ele restringe a vida e não tem pudor em restringir os espaços sociais das camadas dominadas, que invertemos a ordem restringindo também o seu espaço ué! Que seu posicionamento de dominação restrinja por uns momentos a sua liberdade, assim como restringe a nossa todos os dias. O mínimo que o opressor tem é que se constranger-se!

Isso tudo refletindo sobre as ações, sem levantar os fatos da violência sofrida na manifestação por parte dos convidados do casamento, que ridicularizaram e xingaram e entraram em embate físico com puxões de cabelo e socos na barriga dos manifestantes. Sem esquecer de apontar o caso emblemático de um cinzeiro de vidro que voou da sacada do hotel, atingindo a testa de um manifestante, morador do Complexo do Alemão (apenas uma informação para os que dizem que a manifestação foi exclusiva de moradores da zona sul de classe média, como já li pela internet) e ferindo-o. A polícia, que estava no local contendo a manifestação, se recusou a entrar no hotel para apurar o crime de agressão em flagrante. Apenas um policial e um advogado tentaram entrar para identificar daonde e quem era responsável pelo ataque, e foram impedidos pela segurança do Hotel. 

Além dos ataques físicos, aviõezinhos de notas de R$20 e camarões foram atirados à manifestação, principalmente pelo garoto identificado como Daniel Barata, neto de Jacob Barata, também suspeito pela atirar com o cinzeiro. Os primeiros arremessos foram assumidos pelo garoto com pedidos de desculpas. O mais grave foi negado por ele em sua página da rede social.

Fora confrontos incitados por convidados, a manifestação também sofreu brutalidade do instrumento de repressão do Estado, a PM e o contingente do Choque, sobre os gritos da elite de "vai choque", em violação clara ao direito a manifestação e proteção aos interesses privados. Logo eu pergunto, HONESTAMENTE: com toda violência que a manifestação no casamento de Beatriz Barata com Francisco Feitosa sofreu, resultando em FERIDOS, o discurso que você vai sustentar é o senso comum do direito ao casamento "sem confusão"? Se é, existe um grave erro de formulação e percepção da opressão aí. Se entre um ataque subjetivo e simbólico, e uma violência física óbvia, e o que mais te incomoda é o primeiro, você não está zelando pela vida, nem pela liberdade e tão pouco pela opinião. Está defendendo os interesses privados de personagens magnatas que exploram sem pudor e esquecendo dos interesses populares, dessa massa diariamente oprimida, em função desses personagens. É do lado deles que vai te gerar empatia? Eles merecem essa sua empatia?

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Diná e as atrizes

Minha gata Diná é cinéfila!
Ela sempre assisti os filmes exibidos. A tv pode ficar ligada na tv, que ela ignora solenemente. Dorme. Passeia. Se alguém coloca um filme ela se senta no sofá, diante da tela e assisti até o fim. Depois vai embora com a mesma naturalidade.
Ainda agora, ela estava há horas aqui na cama comigo, se mexendo pra lá e pra cá, dormindo, roncando. Enquanto eu usava o computador no colo, ela fazia seus sons e estava num mundo a parte de interagir. Foi um amigo me enviar um curta no youtube e eu dar play que ela subiu no meu ombro e começou a olhar a tela.
Foi o filme acabar e eu abrir novamente as outras páginas da internet que ela se mexeu para sair de novo. Foi para a poltrona. Não me resta nenhuma dúvida de que se rodar outro filme ela retorna.
Eu bato nessa tecla de que Diná ama cinema há anos e ninguém leva a sério. Sempre me dão aquele sorriso de "como a Diana é criativa, que bonitinha". Mas ela confirma isso sempre.
No dia da cerimonia do oscar esse ano, eu estava no computador imprimindo um trabalho. A tv, num péssimo hábito lobotomizante, estava ligada, baixo. Quando começou a transmissão do oscar ela subiu no sofá, e se posicionou frente a tela, na única vez que a vi ter essa postura diante de um programa de tv. Ficou me chamando, até eu sentar e ver a cerimonia toda com ela.
Quando penso em estar nas telas, além da vaidade e da paixão íntima que gira em torno disso, tenho a sensação de que de todos da minha família, ninguém sentiria mais orgulho e se sentiria mais representado, de me ver num filme do que ela.
Sinto que Diná é uma atriz que sonha com as telonas, presa dentro do corpo de um gato. E se há uma atriz presa no seu corpo de gata, há uma gata presa no meu corpo de atriz.
Sempre quis ser uma gata, por entende-la livre, caçadora, selvagem, de alma independente. Que corre pelos telhados e sobe pelas árvores. Que se defende dos perigos com as próprias garras. Que tem os olhos cerrados com a luz do sol. Que tem a língua áspera e os movimentos sensualíssimos.
E sinto que Diná sempre quis ser uma atriz de cinema por entende-las corajosas. Dessas que se sacrificam, dessas que têm humildade. Que se entregam a própria insegurança. Que caminham no escuro, sem nunca saber onde vão chegar. Que assumem a responsabilidade, horas prazerosa, horas terrivelmente dura, de sensibilizar o homem, de despertar, de mover, de tirar da apatia o espectador.
A partir disso, sinto que eu e Diná nos realizaremos através uma da outra. Seremos nossa essência, uma pela outra. Em homenagem, dedicação e amor. Entrega. Meu corpo é teu. E por isso meu corpo é de todas, para ser todas que tiver a honra de ser, no registro das lentes, exibido nas telas.

sábado, 13 de julho de 2013

Manifestante ou modelo?

Eu tenho uma vaidade, claro: como jovem, como artista, como mulher. Mas eu elaboro e aplico ela em qualquer âmbito da minha vida, pessoais, menos na minha luta, porque ela é a construção e contribuição social que vou oferecer ao meu coletivo. A Luta é lugar de se fundir, de ser célula de algo muito maior que eu, do que você. É uma construção coletiva. Carregar egocentrismo para a luta, vaidade, ego inflamado de pavão exibicionista, é a maior falta de bom-senso e espírito coletivo que observei das manifestações que atingiram grande quantidade de pessoas, em junho de 2013. 
Luta não é lugar de promoção pessoal, de auto-divulgação e melhora da imagem para a aceitação social em meios supostamente engajados. Fotografias são registros de denúncia fundamentais que temos. Nesse momento histórico de difusão da produção e veiculação da informação, tudo que se registra em audiovisual é absolutamente importante para nos legitimarmos e provarmos veracidade sobre a nossa versão dos fatos, nossos relatos. Fotografias não são para serem gastas em imagens que só divulgam a si mesmo na rede social... a si e ao seu rosto jovem, branco, e de pele bem cuidada de quem não sente a repressão policial assassina e diária, o esgoto a céu aberto, as mãos castigadas por trabalho e a barriga vazia. Da próxima vez que se propor a se juntar a luta, venha, traga seu grito, seu peito, sua indignação e criatividade, seu ímpeto para somar, sua coragem para resistir e seu desapego para se integrar, mas tente deixar a vaidade em casa. 

E se trouxer a câmera fotográfica, tente usa-la para registrar algo que somará ao movimento e a nossa autonomia na comunicação, não para modelar.

Sobre as contradições do Gigante e a Luta genuína

A luta sempre existiu, a resistência sempre se fez necessária e forte nas bases, e as manifestações de junho agora reverberam. Mas um gigante que estava nas ruas sem nem saber porque estava lá de tão sonâmbulo, preferiu voltar pra cama, e ficar dando soneca no despertador pro resto da vida de novo. 

Voltou para a inércia na mesma velocidade em que saiu, Gigante? 

Excluí o povo que estava lá, mas que sempre foi de luta por necessidade de se afirmar: o povo oprimido, o povo que resiste diariamente, que luta por dignidade, comida, moradia e para garantir sua vida. Não estou falando de trabalho e sustento com garantia de vida. Estou falando em garantir de não ser morto pelo sistema excludente, pelo estado. Esse povo que inventou a economia solidária não por beleza, mas por necessidade de sobrevivência, e que está na busca por espaço e batendo na tecla da inversão da lógica da ordem e do poder popular há anos!

Cadê a galera que estava gritando, se pintando e postando falso ímpeto por mudanças nos debates políticos, de plenárias à mesas de bar e até mesmo no jantar com a família?

Voltou a dormir na cama quentinha garantida.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Eu preciso do feminismo!

Sobre o movimento virtual intitulado "Resistência Anti-Feminismo Marxista" (Marx???) rolando nas redes sociais, com apoio de alguns perfis como Bolsonaro Zueiro, onde mulheres estão se fotografando com cartazes anti-feministas, e muitas vezes pró-opressão de gênero. Usam frases de cunho machista, que de tão absurdas quase não merecem nossas atenções, como "vão lavar a louça". Sendo homens, e normalmente anônimos que se utilizam comummente deste tipo de "argumentação", acho desprezível, porém ignorável. Sendo mulheres, que estão expondo suas caras, para se dizerem anti-feministas, e mandarem mulheres feministas "lavarem louça", acho que o assunto merece certo destaque.



Sobre o repetido dizer: "eu não preciso do feminismo", "ideologia" do "movimento". Tudo bem, ok!

Se não precisam do feminismo, então fiquem em casa, aceitem casamentos arranjados, obedeçam seus pais, ajudem suas mães nos serviços domésticos para serem mulheres prendadas e arranjarem maridos. Depois de casarem, continuem cumprindo as OBRIGAÇÕES do lar, e aceitem a prisão domiciliar enquanto seus DONOS as sustentam. Mas limpem, passem e cozinhem, tudo bem direitinho, por que se não ele vai ter direito de urrar e te dar uma surra. Aceitem qualquer investida sexual, mesmo que vocês não estejam com desejo. A mulher tem que entregar o corpo para o seu homem, mesmo que não esteja com tesão. Alias, tesão não é coisa para mulher. Mulher tem menos apetite sexual que homem, e só goza se estiver apaixonada. Sexo é meramente reprodutivo, e você tem que constituir uma família tradicional, portanto nada de se "desonrar" por que nenhum homem quer uma mulher sem vergonha. E se acaso você um dia trair, aceite que seu marido pode te dar um tiro para "lavar a honra" dele, de forma totalmente impune, porque é "passional", e lavar a honra contra uma mulher "imoral e pervertida" é um direito do homem. DE MODO ALGUM alimente a ambição de estudar, ter formação em alguma profissão, porque mesmo que você complete sua formação, seu marido não vai deixar você trabalhar fora de casa. Onde já se viu mulher "vadiando" fora de casa! Nas noites em que ele estiver com prostitutas, chore de raiva, mas quando ele chegar, não esqueça de não demonstrar, e não deixe que passe pela sua cabeça pedir para se separar. Não existe espaço na sociedade para mulheres "que não sabem segurar um homem". Se ele frequentava bordéis, a culpa era sua! 

Ah, O MAIS IMPORTANTE: NÃO se interesse pela vida pública, nem por política! Isso é assunto de homem. 

Pronto, se você quiser, e conseguir seguir todas essas etapas, sorridente e cordial

VOCÊ NÃO PRECISA DO FEMINISMO. 

Parabéns linda, você é uma mulher prendada, de honra e de família... 

...eu não. Parei na primeira de todas as regras desse conceito de mulher, e sem cumpri-la. Sou ousada, vadia, sem vergonha, sem honra, sem respeito, sem modelo, sem "educação", SEM PRISÕES. Leio muito (!), discuto política(!), faço sexo com quem eu quero a hora que eu quero(!), não obedeço ordens de ninguém(!). Gasto minhas mãos mais escrevendo do que lavando louça, e PIOR, não tenho modos para me vestir, nem para sentar. Uso sutiã aparecendo, e sento muito desleixada, normalmente com as pernas muito abertas. Se for para me sentir bem, faço depilação total, ou fico toda cabeluda (até nas axilas!ó!), deixo a cara limpa ou me pinto "que nem uma puta", EU que resolvo! E adivinhe? Escolhi ser ATRIZ! Profissão que é quase igual a puta, né mesmo? 

Aceito toda a discriminação que AINDA existe com uma mulher livre, que luta, que ama, que é visceral e independente. Mas contra ela, e contra ações de violência física e moral que insanos se utilizam insanamente do meu comportamento para justificar, 

EU PRECISO DO FEMINISMO! 

Uma mulher NÃO TEM que se dar o respeito, TEM que ser respeitada acima de tudo! Acima do seu conceito de comportamento e imoralidade. Por que tem algo de muito errado em um mundo onde existem condições para nos respeitarmos.

Saudações feministas, 
ou "feminazis" se preferir. 
Eu sinceramente não me importo. Só lamento.

Para fechar, uma fotinha minha super ultra "feminazi" dando pinta de cabeluda descompensada na webcam, com sutiã aparecendo, enquanto as louças estão na pia. Quanta imoralidade num ato só!

EU PRECISO DO FEMINISMO


domingo, 19 de maio de 2013

Como se alimentar da utopia, e ultrapassar suas barreiras para atingir metas de transformação social reais.


A quem quer que pense que pequeninas transformações sociais são instrumentos, e não representam nada, na medida que não ferem o sistema de maneira ampla, integral, eu lamento. Acredito nas transformações sociais de pequeno, médio e longo "porte". A "revolução" não é essa onda violenta e arrebatadora que arrasta multidões e transforma claramente a sociedade. Isso é uma ideia tão utópica, quanto irreal. A revolução é singela, e está ao nosso alcance. Ela diz respeito a luta e conquista de direitos e quebra de paradigmas sociais aparentemente pequenos, mas que transformam vidas. 

O capitalismo não acabou. O socialismo não deu certo. E ainda que reinventássemos um novo sistema econômico, ele poderia ser falho. Mas existem fatores sociais que já sabemos, não podem ser reproduzidos em nenhum modelo social, seja ele qual for. A partir do momento em que não deixaremos de ser capitalistas amanhã, que pelo menos deixemos pouco a pouco, de abafar a existência da homossexualidade, de matar e oprimir mulheres, de segregar pessoas por cores de pele e poder de consumo. 

A tentativa de imposição de um sistema não-capitalista foi historicamente desastrosa. Já transformações sociais aparentemente muito menores, tem efeitos muito mais precisos nas nossas vidas. Se hoje eu, mulher, vou a universidade, ando sozinha, visto a roupa que adequar ao clima, compartilho aulas com colegas de diversas cores, levanto a opinião que eu tiver, e tenho amigos e parentes homossexuais que podem falar e VIVER suas orientações, isso me parece MUITO mais válido, e material, sadio e valioso, do que a ideia de uma onda que nunca veio, que nos arrastaria para um mundo de igualdade social plena. 

É claro que seguirei idealizando-a. Acreditando na vida humana sem segregações. Mas o que acontece de forma quase imperceptível, a opinião pública que se modifica e progride de forma sútil ao longo do tempo, ainda me parece muito mais eficiente na prática. Basta levantarmos análises históricas e refletirmos nossa vida pública atual.

O nosso sistema econômico mata? Sim. O nosso sistema econômico segrega e não permite a inclusão de todos? Sim. A nossa relação com o material está em jogo a medida que o planeta é finito e estamos tratando-o como descartável e infinito e por isso o sistema, além de excluir pessoas, mostra-se insustentável? Sim. Sim. Sim. Todas essas questões estão corretas. 

Mas ainda sim, existe um sistema vigente de amplitude arraigada e praticamente imbatível, que para além de segregar e matar pelo sucesso da cadeia econômica em si, segrega e mata por conceitos que em nada interferem no sucesso desse modelo. Essa segregação e violência, é de todas, a mais passível de ser combatida. A eliminação do preconceito social, da opressão que não interfere amplamente no sistema social, é possível, e para ontem! Se pensarmos globalmente, e nunca seguirmos a partir desses pensamentos, estaremos cuspindo filosofia barata, que não transforma vidas.

Homens, mulheres, pessoas supostamente inclusas no sistema econômico, ainda sim podem estar excluídas do modelo social. As instituições família-escola-religião nos apresentam um modelo de inclusão no sistema, mas se você não preencher seus insanos e inesgotáveis pré-requisitos, também será excluído, e não viverá uma vida de liberdade plena. Se não soubermos pegar ideia de transformação gerais, e aplica-las de forma simplificada, detalhada, local, elas vão para a lata do lixo. 


A transformação para uma nova consciência social está ao alcance de quem detém o conhecimento, e dispõe da boa vontade de apresenta-lo a quem não tem acesso, por meio da interação. Isso  se chama inclusão. Isso é transformador. Isso é libertador. Interagir localmente, e apresentar alternativas de vida à pessoas que nunca tiveram acesso a esses outros modelos de vida é um trabalho sublime. É uma realização da razão, em detrimento de uma melhoria real. Apresentar e distribuir culturas de subsistência, projetos de sustentabilidade, esperança e transformação, risos, troca, e manifestações artísticas, isso é transformação social! 

Isso é revolução de consciência! A consciência coletiva se altera pouco a pouco, se lapida. Mas acredito que chegamos a um nível de sermos tão, tão marionetizados, que até nós, que temos o privilégio do acesso a informação, que somos supostamente "esclarecidos", já estamos negando as possibilidades de transformação social tão suscetíveis a realização. O monstro que assimila, assimilou até a ideia de esclarecimento, e elevou-a a um nível de estarrecimento que provoca o ócio. 

E nada se altera. 

Por que é assim que ele quer.

domingo, 5 de maio de 2013

A paixão é um cinema.

Ops, o cinema é uma paixão.

Uma paixão da qual eu quero viver, para a qual quero me entregar, me inventar e reinventar, me fazer manifestar e ser ouvida. É a arte que me transporta, que me transborda, e que faz minha fantasia possível de viver dela, um risco gostoso de enfrentar.

A partir disso trago aqui algo do qual me orgulho. Pessoas muitos jovens, muito queridas e muito dedicadas, manifestando-se concretamente, onde hoje ainda moro no desejo. No cinema!

Minha queridíssima, de talento super prodígio, colega de turma do curso de Artes Cênicas, Malu Stanchi estrelando um triller.

Sempre dedicada, mais profissional do que pessoas com o dobro de sua idade, e de atuação sempre precisa e pungente. Malu me surpreendeu desde sua primeira fala em sala de aula, e Malu me surpreende desde então.  Em sua primeira cena da faculdade, e novamente em seus exercícios de interpretação em sala, e em sua participação na novela "Aquele Beijo", e em sua interpretação madura e intirável de Blanche, personagem "nada complexo" de Tennessee Williams". Por mais que já seja perita em saber de seu talento Malu nunca deixa de me surpreender. Malu é doce, infantil, sedutora, louca, madura, o que você quiser. Sua maturidade cênica é realmente incrível. Malu é sempre uma surpresa gostosa e um orgulho.

Malu, obrigada por ser uma amiga tão cativante como você é como atriz.

E fiquem aqui com o filme:

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=61--bDIlazY#!

Mas o post não para por aí, pois a lista de amigos talentosos pelo visto não para.

Gava Muzzer é um dos amigos mais leves, pré-dispostos, pacífico, com sede de viver de forma harmoniosa e de aceitação pelo mundo. Doce, carinhoso, e uma das pessoas mais naturalmente humildes que já conheci. Toda essa humildade vem por que Gava tem um estilo próprio de levar a vida sempre como aprendiz. Uma fotografo de uma sensibilidade fluente, pulsante. Seu cinema não podia ser mais reflexo de sua personalidade.

Gava, não sei o que tenho para te oferecer, mas sinto que tenho muito a aprender com a sua forma de encarar o mundo e a arte.

É com carinho que compartilho com vocês essa belíssima experiência cinematográfica de meu querido (também muito jovem) amigo Gava:

 http://www.youtube.com/watch?v=Q-D06cybv-0

Ao observar pessoas tão próximas, se arriscando a tais desempenhos, sinto que muita coisa boa está por vir.

Termino esse post com o trecho de uma música que da sentido a tudo isso.

"O amor é filme
Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama
E sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã fica
Da felicidade, da dúvida, da dor de barriga
É drama, aventura, mentira, comédia romântica
(...)
É quando as emoções viram luz, e sombras e sons, movimentos"



terça-feira, 30 de abril de 2013

Porque escolhermos ser chatos feministas?


Porque machismo e estupro são intragáveis e injustificáveis.

Veja você o que (NÃO) temos que ouvir sobre assuntos como estupro. Na semana passada eu ouvi de uma pessoa, que até então era querida, homem-hétero-branco (uma definição apenas, por favor não leia preconceito onde não tem), que quem sofre POR um estupro, só sofre "porque procurou sofrer". Se não se "envolve-se demais" com a causa talvez nem se lembra-se e vivesse uma "vida normal".

(??????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????)

É, deixa eu ver se entendi, alguém que NUNCA foi estuprado, e obviamente não entende bulhufas da mente humana, nem da resiliência dela - ou seja, o fato de uma situação ter um impacto completamente diferente, particular, individual, intransferível e incalculável por quem não o experienciou da forma que a pessoa experienciou, tanto no fato em si, como no que isso afetou sua mente - tentando CULPAR novamente a vítima de um crime bárbaro, não (só) pelo crime, mas agora pelos distúrbios psicológicos que ele lhe causou?
Ah, vá...
dizer coisas irresponsáveis e babacas bem longe de minha e da minha amizade. E estudar psicologia e impactos pós-traumáticos também, seria uma boa, libertaria sua mente da ignorância.

Gostaria de esclarecer essa pessoa de que: Existem pessoas que sobre pós-traumas, tem alucinações, auditivas e/ou visuais... elas "escolheram" ver e ouvir coisas que sabe que não são reais? Elas estão "procurando", fazendo esforços para ver e ouvir irrealidades, só para "se vitimizar"?

Seus argumentos são irracionais, não científicos, e não justificam a saudade mental de vítimas de estupro, nem os crimes, nem porra nenhuma além do seu conforto diante de uma sociedade machista e uma cultura do estupro, onde homens são aceitos pela ideia de seres que só querem/precisão/podem enfiar a piroca em qualquer uma (por "instinto", afinal, são "animais" - como essa pessoa também me disse).

Um "blablablá" desprezível e insensível! Para mim, o que essa pessoa diz (tenta, né?) foge a ideia de diálogo, porque procura soluções imediatas e justificativas para violências e barbaridades, e aí, o diálogo se encerra. Porque isso é impossível e inaceitável! Apesar de tudo, desejo do fundo do meu coração, que ninguém que essa pessoa, e as pessoas que pensam como ela, amem, sofra uma violência truculenta e traumática, e seja obrigado a dedicar parte (ou por completo) da sua vida para recuperar sua saúde mental, sanidade, plenitude e esperança/confiança no mundo e em si. Que elas não tenham que ver isso de perto para aprender, e possa abrir sua mente de forma mais branda e solicita.

Por me indignar com a violência e a discriminação contra a mulher, e com tais tentativas de justifica-las, entendo a necessidade da luta feminista, do feminismo como conceito de transformação social, para uma sociedade mais igualitária.

Aí, me vem a MESMÍSSIMA pessoa e me diz que a luta feminista é chata, e que estereótipos de gêneros são importantes para o desenvolvimento e identificação das crianças.

Eu lhe pergunto sobre as crianças que não se identificam com nenhum dos modelos que lhe oferecem pronto para seguir, e posteriormente desenvolvem distúrbios psicológicos por uma vida inteira de luta, tentando se adequar a modelos limitados que não eram para elas. Ele claramente não soube responder, só soube repetir que "a luta feminista é CHATA".

Ele tá no direito dele de achar isso. Eu, meu companheiro feminista (e por extensão à família feminista que temos a sorte de ser/ter), e TODXS XS FEMINISTAS DESSE LINDO MUNDÃO, estamos no nosso direito de ignorar essa opinião, ou assimila-la, e nos assumirmos: CHATOS!

Ignorem-nos quem quiser ignorar, nós não vamos ser “legais”(contrário de chato – que pra mim nesse caso é confortável) para agradar. Porque as pessoas que influenciaram a história e chacoalharam os modelos de sociedade, foram incessantemente CHATAS. E nós, agora em vida, jovens, decidimos juntos, que seremos incessantemente CHATOS. Ainda que não entremos para a história, pois o ego não pode ser o impulso e a finalidade da luta, mas que mudemos o mínimo do mínimo ao nosso alcance. Já nos faz felizes e a vida ganha sentido e vale a pena. Criar e educar indivíduos de maneira humanista para que respeite as pessoas e suas diversidades, já é uma mudança, e uma mudança possível para nós.

O que acho curioso de tudo, a pessoa que desencadeou isso tudo, estava envolvida na campanha do Marcelo Freixo para prefeito nas eleições municipais do RJ, no ano passado -assim como eu. A campanha de Freixo, candidato pelo PSOL, tinha como slogan belíssimo poema de um poeta influente e revolucionário Bertold Brecht. E o poema diz "NADA DEVE PARECER NATURAL". Agora, menos de um ano depois da campanha, carinhosamente chamada de "primavera carioca" quer me convencer de que a opressão é natural, e até importante, e de que a nossa luta contra ela é CHATA.

Bem, se compreender a fundo que NADA DEVE PARECER NATURAL é ser CHATO para sempre, para além de épocas de campanhas políticas e MUITO, MUITO ALÉM de qualquer envolvimento partidário, nós vamos pedir para ser CHATOS e entrar na fila milhões de vezes, vamos gritar que queremos ser CHATOS no vale do eco... e vamos levar nossa CHATICE junto com o vento e a vida, contra tudo que oprima e limite um ser humano! TUDO! Até mesmo ovinhos de menino azul e de menina rosa. Até! Por menor que isso te pareça. Sabe por quê?

Porque somos feministas, nós somos não gostamos de sexismo. Nós não engolimos que conceitos absurdos de gênero, opressões de todo tipo, e violência contra a mulher, sejam coisas justificáveis, nem naturais.

Nós somos chatos! Doentiamente chatos! E outro dia ouvi que "os incomodados que mudam o mundo".
Então a responsabilidade está conosco mesmo.

"Nada causa mais horror a 'ordem' que mulheres que lutam e sonham"


Dedicado a todas as mulheres anti-eva, revolucionárias, insubmissas e subversivas contra todos os poderes do céu e da terra, contra os padrões ditados por esta sociedade de machistas e autoritários!! Viva as mulheres que lutaram e lutam pelos ideais de igualdade e liberdade! 

Mulher, lute!

VIVA AS BRUXAS!

"É preciso muito sonho para sobreviver numa cidade grande"

Rap do Real 

"Com quantos reais se faz uma REALidade? 
É preciso muito sonho pra sobreviver numa cidade 
grande jogo de cintura 
entre estar esperto e ser honesto 
há um resto que não é pouca bobagem" 


Quem não gosta de "spoiler" e não viu o filme MEDIANEIRAS, não deve ler esse post.






Medianeiras é no contexto privado, uma análise da solidão. No contexto público, uma análise das grandes metrópoles  das civilizações pós-modernas, da urbanização desorganizada, e da desordem que tudo isso provoca no indivíduo (voltando ao individuo). Trata de pânico, fobia social, solidão por reclusão. Optada pela segurança que o lar (por menor que seja) prometi. O texto do filme que análise homem-sentimentos cidades, deixando claro que sensibilidade exacerbada não é compatível à vida urbana, que exige frieza, e racionalidade, é uma coisa linda!

Um trecho do texto de introdução do filme:

"(...) Uma cidade em que se erguem milhares e milhares e milhares e milhares de edifícios sem nenhum critério. Ao lado de um muito alto, existe um muito baixo, ao lado de um racionalista, um irracional, ao lado de um de estilo francês há outro sem estilo algum. Provavelmente estas irregularidades nos refletem perfeitamente, irregularidades estéticas e éticas.

Estes edifícios que se sucedem sem nenhuma lógica demonstram uma total falta de planejamento. Exatamente igual à nossa vida, vamos vivendo sem ter a mínima ideia de como queremos ser." 

O que se pode esperar de uma cidade em que Jesus vira as costas para o povo?*²

"Estou convencido de que as separações e os divórcios, a violência familiar, o excesso de canais de cabo, a falta de comunicação, a falta de desejo, a abulia, a depressão, os suicídios, as neuroses, os ataques de pânico, as contraturas, a insegurança, o estresse e o sedentarismo são responsabilidade dos arquitetos e empresários da construção.

Desses males, exceto o suicídio, eu padeço de todos."



*²   Adaptação de uma frase do texto do filme, da realidade de Buenos Aires, para a realidade carioca, seguindo o mesmo sentimento.


"Apenas se a minha mente trabalhasse tão bem quanto meu Mac, e eu pudesse excluir tudo só com um clique."

  
"E eu me sento sobre doze metros de plásticos bolha, estourando as bolhas, para que assim eu não estoure."


"A internet me aproxima do mundo, mas distante da realidade."



Como pessoa que só conheceu a vida em área urbana, e exacerbadamente sensível, sinto-me contemplada por cada frase do filme. E ainda que por me identificar, me exponho, compreendo muito a partir de ver Medianeiras. Não só da sobrevivência em áreas urbanas, mas da sobrevivência em geral. Do seu instinto natural. E entendo que só enfeiamos (tá, as vezes embelezamos), mas principalmente transferimos a selva. Os riscos sempre existiram e fazem parte da condição do sobrevivente. Uma compreensão que tem tudo a ver com fatores muito íntimos atuais, e que portanto, aguardam apenas a assimilação desse ensinamento, não de forma analítica, mais com coração. Enquanto isso, permaneço aqui, próxima do mundo e distante da realidade.

Lembro-me de um texto, que escrevi há alguns anos, publicado em algum lugar deste mesmo blog, que faz uma lista longa de riscos, e no final decidi por ignora-los, para que possa seguir a vida. Pensando nisso, percebo que a Diana adolescente sabia ser bem mais malandra e racional do que a "jovem adulta". Acho que está na hora de promover o encontro entre a Diana daqueles anos, e a de agora, e ouvir o que aquela tem a me dar de orientação. 



Agradecimentos à Gabriel, por ser meu Wally. Eu sou seu encontro não marcado, e nós o saco bolha um do outro, que respeita as cóleras de cada um, e o traz de volta a realidade quando precisa. E assim, um ajuda o outro a não estourar.





domingo, 28 de abril de 2013

Um homem tem o direito de oferecer ("sua") mulher?


NÃO! Porque gente não é posse!


Pensei que traria aqui posts lindos e agradáveis de início para conquista-los. Mas o tempo passa atropelando a vida e encantando-nos por ela cada vez mais depressa, e as experiências reais são de êxtase incomparável as virtuais. Por isso não postei, nem devo postar com regularidade precisa, mas a precisão pouco importa. O que importa é ser intenso e real, seja alegre ou triste. Não trouxe nada aqui, mas não queria perder o tempo de falar de uma notícia (HORRENDA) que acabo de ler, pois atualidades - e discussões a respeito - também fazem parte da "pauta" e dos meus intuitos.

Pois bem, um conhecido acaba de me por em contato através da rede social com esta notícia, publicada pelo jornal extra (da onde não se pode esperar muito, ou melhor, NADA melhor mesmo):

Intitulada "Balotelli desafia Real Madrid: ‘Se passarem vou deixar que a minha noiva durma com os jogadores’"
Leia mais: http://extra.globo.com/esporte/balotelli-desafia-real-madrid-se-passarem-vou-deixar-que-minha-noiva-durma-com-os-jogadores-8235910.html#ixzz2Rp1lwRSK


A pessoa que compartilhou a “matéria” não o fez de forma crítica, refletindo sobre seu conteúdo. Fez de forma a parecer algo natural, divertido, entusiasmático. Uma repercussão que só mostra o quão nocivo são os conceitos arraigados. A discussão de possessividade dentro de um relacionamento não é nova, mas não sei se é só isso que está em jogo aqui.

O que está em jogo é a perpetuação de uma ideia (criada, proclamada e reproduzida por longos séculos) já pedindo para "bater às botas", mas que algumas pessoas insistem em não deixá-la ir. É a ideia de que um homem é dono da “sua” mulher, com quem se relaciona e pode mandar, cobrar e exigir o que bem inventar dela. A imaginação do homem, junto com a sua imbecilidade, parece que podem ser enormes, inesgotáveis, e ainda sim, sua súdita terá de “cumprir com seu papel de cônjuge”.

- Não esquecemos NUNCA o peso que a religião teve na instauração e legitimação dessa ideia.

Ainda que a religião nunca tenha dito para a mulher fazer sexo com todos os homens que o “seu macho” mandasse, ela martelou sobre obediência, e subserviência e a “interpretação” – que eu vulgarmente prefiro colocar como “má intenção” – estão aí… junto com o “livre arbítrio”. E a depender do caráter do líder religioso, junto com o direito de matar para fazer honra a “deus”.

E diante dessa ideia, e da declaração desse indivíduo, eu fico aqui me perguntando:

- E se a noiva dele não quiser “dormir” com os jogadores adversários dele, se forem vitoriosos?
- Será que essa homem consultou a noiva dele antes de dar tal declaração para a imprensa?

E diante do nível de machismo (necessidade de homens de auto-afirmarem-se dominadores) infiltrado transparentemente em nossa sociedade, eu posso até supor (nunca afirmar!) que NÃO! Esse homem não deve ter consultado essa mulher, por que em um relacionamento impositivo onde há dominador e dominado,  não há espaço para o consenso, para a cumplicidade, para a liberdade dos indivíduos.

Não tenho dúvidas de que a ilusão de que o outro lhe pertence não é um problema apenas masculino. Mas por razões históricas indiscutíveis, ela é MAJORITARIAMENTE masculina, sim! E de forma muito nociva, pois o homem tem a força física, a força bruta para “persuadir” uma mulher. Visto a questão da força física, volto a me perguntar sobre essa mulher, especificamente:

(A essa altura eles já foram hipoteticamente vitoriosos no jogo, e foda-se as possibilidades disso porque não entendo porra nenhuma de futebol, não sei sobre esses times, isso não interessa à questão e como diz meu pai, amante desse esporte, “futebol é uma caixinha de surpresas”).

Repetindo a pergunta:

- E se ela não quiser “dormir” com os jogadores?

O noivo dela fez uma promessa pública aos adversários!

- E se os adversários, portanto, sentirem-se no “direito” de exigir o cumprimento da promessa, e essa mulher se negar à eles, contra suas vontades, os desejos, as fantasias eróticas, os impulsos animalescos destes homens, e contra o próprio noivo?

Eles a estuprarão, possivelmente. Estou errada? Será que seu noivo seria conivente com isso?

Bem, ao menos que essa história específica seja mais do que simples procura por ibope  e uma real violação ao direito pleno de liberdade dessa mulher específica – porque como diz aquela banalizada, porém célebre frase feminista, “mexeu com uma, mexeu com todas nós” – o desenrolar dessa história já não me interessa mais.

Também não devo excluir a autonomia que essa mulher merece para se “auto-defender”, isto é, caso encare isso algo passível de defesa. Ela pode encarar isso como uma fantasia erótica pessoal, e não ver nenhum problema em realizar o ato prometido. Ok. Aí é permitido e deve ser respeitado, pois prova-se consensual e a vida sexual dos outros à eles pertence.

O que me interessa a partir disso é a discussão, que a afirmação pública de um indivíduo (homem) com conteúdo de posse sobre sua companheira, pode nos promover.

Radicalmente falando, a ideia contrária à ela me parece a simples ideia de que MULHER É SER HUMANO, e como todo ser humano é livre para fazer suas próprias escolhas e suas escolhas podem não ser servir (sexualmente e/ou não) homens e lhes fornecer prazer.

Qual foi duma caralhada de cérebros humanos ainda não terem tido esse “insigth cognitivo” ainda, porra? “Deixo minha mulher fazer isso”/”não deixo minha mulher fazer aquilo”. Tu não tem que deixar porra nenhuma! Uma pessoa quer, ela tem que poder ir lá e fazer (Favor excluir tudo aquilo que infringe os direitos de outras pessoas).

Se você não gosta disso, morde o travesseiro de raivinha, soca a parede, dá um tiro na testa, mas não violenta, nem mande em ninguém, por que gente não é posse, caralho! (Favor usar a mesma lógica de consenso, cumplicidade e liberdade para qualquer relacionamento entre duas pessoas).

MULHER É GENTE, E PASMEM, MULHER FEIA, MULHER GORDA, MULHER MACHO, PIRANHA, SAPATÃO, TRAVESTIS E GAYS TAMBÉM SÃO!

OOOOOOOOOOÓ

Esse deve ter sido um momento de choque e descoberta para algumas pessoas, afinal, é uma quebra de paradigmas pro que elas receberam como “educação” (de MERDA!).

Se você é uma delas, sem problemas, tome seu tempo, beba uma água com açúcar, se não for diabético, sente, e assimile essas ideia com carinho. Ser babaca não é uma patologia científica, apenas cultural, e o conhecimento revela que há soluções. Relaxe e procure as informações mais próximas. Ao persistirem os sintomas de ódio e ignorância, fuja para bem longe da civilização, proteja-se do progresso e estará protegendo o progresso de você.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

De volta à ativa!


E aqui estou. Onde sempre quis estar. Muitas e muitas vezes planejei arduamente retomar o blog com escritos. Traçava planos para a retomada, quase que um golpe. É, sabe aquele velho auto-boicote, que faz as atitudes simples parecerem uma guerra, e você abandona as ideias para trás? Acontece com vocês? Porque comigo acontece DIRETO!

Não tenho a intenção de que haja coerência entre o conteúdo antigo que postava aqui na adolescência, e o atual. Não tenho intenção de atravessar o mesmo rio que atravessei anos antes. (Do provérbio: O mesmo homem, não atravessa o mesmo rio, duas vezes.) As águas já mudaram e eu também já mudei muito. É um ciclo, de transformação e renovação que não para até o fim da vida. O da água alias, continua independente da sua existência.



O que sucedeu foi que nunca consegui retornar o blog. Mas recentemente comecei naturalmente a escrever textos no facebook. Além de manter um caderno comigo que também tem muito material, mas isso é uma outra abordagem, outra questão, que vai ficar para depois, junto com a questão de querer/pretender usar o blog não só para manifestar minhas opiniões, como para divulgar meu trabalho como atriz.

Voltando aos escritos do facebook, achei aquilo uma grande mancada, e fui ficando muito frustrada com o resultado. Meia-dúzia de pessoas pingadas liam, e com sorte até comentavam elogiando o post, mas isso era uma exceção, com pessoas que são exceção, mas de uma forma geral o que eu escrevia era ignorado.

Me pareceu que essa "experiência" falou muito sobre as convenções sociais não exatamente conscientes do uso do facebook. Facebook é lugar de expor a intimidade do relacionamento e a vida pessoal. Qualquer outro objetivo ali, como “panfletário” é CHATO e perturba. Bem, eu entendo que a minha imagem imagem privada só é válida de divulgação de forma consciente e/ou vinculada aos meus valores como ser humano. Entendi o "recado": o facebook é uma espécie de "fast food" da opinião no cenário virtual.

O blog da uma liberdade de não ser "convencionado" que se deve ser curto e usar poucas palavras. Também não precisa de tratar de temas superficiais, as pessoas procuram-o justamente pelo conteúdo que aborda.

E espero, um dia, que não de imediato, ter um grupo de pessoas que acompanhem o que escreverei aqui, minhas campanhas, opiniões, e também meu trabalho como atriz.

Eu encaro a escrita, tanto pessoal, quanto a publicada, como uma espécie de "terapia". A publicada é uma forma de usar a internet para mandar as convenções sociais e o que me incomoda no mundo (muita coisa!) para a casa do caralho - porém sem ser agressiva, e com trabalho em argumentos. Além de disseminar o que acredito no mundo, é claro! Para o facebook, vai ficar o que cabe por lá - uma rede social que "une" pessoas, mas é adepta de uma logística mais superficial. Sem receios, alias, grata, pois me deu coragem para finalmente realizar o sonho (que fiz parecer mais distante do que o concreto que é) de retomar o blog. Sem mais delongas, mãos ao teclado.




Foto Rio Sana, Direitos Reservados a Valcir Sirqueira
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