terça-feira, 30 de abril de 2013

"É preciso muito sonho para sobreviver numa cidade grande"

Rap do Real 

"Com quantos reais se faz uma REALidade? 
É preciso muito sonho pra sobreviver numa cidade 
grande jogo de cintura 
entre estar esperto e ser honesto 
há um resto que não é pouca bobagem" 


Quem não gosta de "spoiler" e não viu o filme MEDIANEIRAS, não deve ler esse post.






Medianeiras é no contexto privado, uma análise da solidão. No contexto público, uma análise das grandes metrópoles  das civilizações pós-modernas, da urbanização desorganizada, e da desordem que tudo isso provoca no indivíduo (voltando ao individuo). Trata de pânico, fobia social, solidão por reclusão. Optada pela segurança que o lar (por menor que seja) prometi. O texto do filme que análise homem-sentimentos cidades, deixando claro que sensibilidade exacerbada não é compatível à vida urbana, que exige frieza, e racionalidade, é uma coisa linda!

Um trecho do texto de introdução do filme:

"(...) Uma cidade em que se erguem milhares e milhares e milhares e milhares de edifícios sem nenhum critério. Ao lado de um muito alto, existe um muito baixo, ao lado de um racionalista, um irracional, ao lado de um de estilo francês há outro sem estilo algum. Provavelmente estas irregularidades nos refletem perfeitamente, irregularidades estéticas e éticas.

Estes edifícios que se sucedem sem nenhuma lógica demonstram uma total falta de planejamento. Exatamente igual à nossa vida, vamos vivendo sem ter a mínima ideia de como queremos ser." 

O que se pode esperar de uma cidade em que Jesus vira as costas para o povo?*²

"Estou convencido de que as separações e os divórcios, a violência familiar, o excesso de canais de cabo, a falta de comunicação, a falta de desejo, a abulia, a depressão, os suicídios, as neuroses, os ataques de pânico, as contraturas, a insegurança, o estresse e o sedentarismo são responsabilidade dos arquitetos e empresários da construção.

Desses males, exceto o suicídio, eu padeço de todos."



*²   Adaptação de uma frase do texto do filme, da realidade de Buenos Aires, para a realidade carioca, seguindo o mesmo sentimento.


"Apenas se a minha mente trabalhasse tão bem quanto meu Mac, e eu pudesse excluir tudo só com um clique."

  
"E eu me sento sobre doze metros de plásticos bolha, estourando as bolhas, para que assim eu não estoure."


"A internet me aproxima do mundo, mas distante da realidade."



Como pessoa que só conheceu a vida em área urbana, e exacerbadamente sensível, sinto-me contemplada por cada frase do filme. E ainda que por me identificar, me exponho, compreendo muito a partir de ver Medianeiras. Não só da sobrevivência em áreas urbanas, mas da sobrevivência em geral. Do seu instinto natural. E entendo que só enfeiamos (tá, as vezes embelezamos), mas principalmente transferimos a selva. Os riscos sempre existiram e fazem parte da condição do sobrevivente. Uma compreensão que tem tudo a ver com fatores muito íntimos atuais, e que portanto, aguardam apenas a assimilação desse ensinamento, não de forma analítica, mais com coração. Enquanto isso, permaneço aqui, próxima do mundo e distante da realidade.

Lembro-me de um texto, que escrevi há alguns anos, publicado em algum lugar deste mesmo blog, que faz uma lista longa de riscos, e no final decidi por ignora-los, para que possa seguir a vida. Pensando nisso, percebo que a Diana adolescente sabia ser bem mais malandra e racional do que a "jovem adulta". Acho que está na hora de promover o encontro entre a Diana daqueles anos, e a de agora, e ouvir o que aquela tem a me dar de orientação. 



Agradecimentos à Gabriel, por ser meu Wally. Eu sou seu encontro não marcado, e nós o saco bolha um do outro, que respeita as cóleras de cada um, e o traz de volta a realidade quando precisa. E assim, um ajuda o outro a não estourar.





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