segunda-feira, 15 de julho de 2013

Diná e as atrizes

Minha gata Diná é cinéfila!
Ela sempre assisti os filmes exibidos. A tv pode ficar ligada na tv, que ela ignora solenemente. Dorme. Passeia. Se alguém coloca um filme ela se senta no sofá, diante da tela e assisti até o fim. Depois vai embora com a mesma naturalidade.
Ainda agora, ela estava há horas aqui na cama comigo, se mexendo pra lá e pra cá, dormindo, roncando. Enquanto eu usava o computador no colo, ela fazia seus sons e estava num mundo a parte de interagir. Foi um amigo me enviar um curta no youtube e eu dar play que ela subiu no meu ombro e começou a olhar a tela.
Foi o filme acabar e eu abrir novamente as outras páginas da internet que ela se mexeu para sair de novo. Foi para a poltrona. Não me resta nenhuma dúvida de que se rodar outro filme ela retorna.
Eu bato nessa tecla de que Diná ama cinema há anos e ninguém leva a sério. Sempre me dão aquele sorriso de "como a Diana é criativa, que bonitinha". Mas ela confirma isso sempre.
No dia da cerimonia do oscar esse ano, eu estava no computador imprimindo um trabalho. A tv, num péssimo hábito lobotomizante, estava ligada, baixo. Quando começou a transmissão do oscar ela subiu no sofá, e se posicionou frente a tela, na única vez que a vi ter essa postura diante de um programa de tv. Ficou me chamando, até eu sentar e ver a cerimonia toda com ela.
Quando penso em estar nas telas, além da vaidade e da paixão íntima que gira em torno disso, tenho a sensação de que de todos da minha família, ninguém sentiria mais orgulho e se sentiria mais representado, de me ver num filme do que ela.
Sinto que Diná é uma atriz que sonha com as telonas, presa dentro do corpo de um gato. E se há uma atriz presa no seu corpo de gata, há uma gata presa no meu corpo de atriz.
Sempre quis ser uma gata, por entende-la livre, caçadora, selvagem, de alma independente. Que corre pelos telhados e sobe pelas árvores. Que se defende dos perigos com as próprias garras. Que tem os olhos cerrados com a luz do sol. Que tem a língua áspera e os movimentos sensualíssimos.
E sinto que Diná sempre quis ser uma atriz de cinema por entende-las corajosas. Dessas que se sacrificam, dessas que têm humildade. Que se entregam a própria insegurança. Que caminham no escuro, sem nunca saber onde vão chegar. Que assumem a responsabilidade, horas prazerosa, horas terrivelmente dura, de sensibilizar o homem, de despertar, de mover, de tirar da apatia o espectador.
A partir disso, sinto que eu e Diná nos realizaremos através uma da outra. Seremos nossa essência, uma pela outra. Em homenagem, dedicação e amor. Entrega. Meu corpo é teu. E por isso meu corpo é de todas, para ser todas que tiver a honra de ser, no registro das lentes, exibido nas telas.

Um comentário:

  1. Bonito demais, além da literatura. Bonito pela esperança, de contemplar a vida de um ser, com sua própria vida e ter ela sido contemplada por esta ação.
    Acho que da sentido a vida.

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