domingo, 19 de maio de 2013

Como se alimentar da utopia, e ultrapassar suas barreiras para atingir metas de transformação social reais.


A quem quer que pense que pequeninas transformações sociais são instrumentos, e não representam nada, na medida que não ferem o sistema de maneira ampla, integral, eu lamento. Acredito nas transformações sociais de pequeno, médio e longo "porte". A "revolução" não é essa onda violenta e arrebatadora que arrasta multidões e transforma claramente a sociedade. Isso é uma ideia tão utópica, quanto irreal. A revolução é singela, e está ao nosso alcance. Ela diz respeito a luta e conquista de direitos e quebra de paradigmas sociais aparentemente pequenos, mas que transformam vidas. 

O capitalismo não acabou. O socialismo não deu certo. E ainda que reinventássemos um novo sistema econômico, ele poderia ser falho. Mas existem fatores sociais que já sabemos, não podem ser reproduzidos em nenhum modelo social, seja ele qual for. A partir do momento em que não deixaremos de ser capitalistas amanhã, que pelo menos deixemos pouco a pouco, de abafar a existência da homossexualidade, de matar e oprimir mulheres, de segregar pessoas por cores de pele e poder de consumo. 

A tentativa de imposição de um sistema não-capitalista foi historicamente desastrosa. Já transformações sociais aparentemente muito menores, tem efeitos muito mais precisos nas nossas vidas. Se hoje eu, mulher, vou a universidade, ando sozinha, visto a roupa que adequar ao clima, compartilho aulas com colegas de diversas cores, levanto a opinião que eu tiver, e tenho amigos e parentes homossexuais que podem falar e VIVER suas orientações, isso me parece MUITO mais válido, e material, sadio e valioso, do que a ideia de uma onda que nunca veio, que nos arrastaria para um mundo de igualdade social plena. 

É claro que seguirei idealizando-a. Acreditando na vida humana sem segregações. Mas o que acontece de forma quase imperceptível, a opinião pública que se modifica e progride de forma sútil ao longo do tempo, ainda me parece muito mais eficiente na prática. Basta levantarmos análises históricas e refletirmos nossa vida pública atual.

O nosso sistema econômico mata? Sim. O nosso sistema econômico segrega e não permite a inclusão de todos? Sim. A nossa relação com o material está em jogo a medida que o planeta é finito e estamos tratando-o como descartável e infinito e por isso o sistema, além de excluir pessoas, mostra-se insustentável? Sim. Sim. Sim. Todas essas questões estão corretas. 

Mas ainda sim, existe um sistema vigente de amplitude arraigada e praticamente imbatível, que para além de segregar e matar pelo sucesso da cadeia econômica em si, segrega e mata por conceitos que em nada interferem no sucesso desse modelo. Essa segregação e violência, é de todas, a mais passível de ser combatida. A eliminação do preconceito social, da opressão que não interfere amplamente no sistema social, é possível, e para ontem! Se pensarmos globalmente, e nunca seguirmos a partir desses pensamentos, estaremos cuspindo filosofia barata, que não transforma vidas.

Homens, mulheres, pessoas supostamente inclusas no sistema econômico, ainda sim podem estar excluídas do modelo social. As instituições família-escola-religião nos apresentam um modelo de inclusão no sistema, mas se você não preencher seus insanos e inesgotáveis pré-requisitos, também será excluído, e não viverá uma vida de liberdade plena. Se não soubermos pegar ideia de transformação gerais, e aplica-las de forma simplificada, detalhada, local, elas vão para a lata do lixo. 


A transformação para uma nova consciência social está ao alcance de quem detém o conhecimento, e dispõe da boa vontade de apresenta-lo a quem não tem acesso, por meio da interação. Isso  se chama inclusão. Isso é transformador. Isso é libertador. Interagir localmente, e apresentar alternativas de vida à pessoas que nunca tiveram acesso a esses outros modelos de vida é um trabalho sublime. É uma realização da razão, em detrimento de uma melhoria real. Apresentar e distribuir culturas de subsistência, projetos de sustentabilidade, esperança e transformação, risos, troca, e manifestações artísticas, isso é transformação social! 

Isso é revolução de consciência! A consciência coletiva se altera pouco a pouco, se lapida. Mas acredito que chegamos a um nível de sermos tão, tão marionetizados, que até nós, que temos o privilégio do acesso a informação, que somos supostamente "esclarecidos", já estamos negando as possibilidades de transformação social tão suscetíveis a realização. O monstro que assimila, assimilou até a ideia de esclarecimento, e elevou-a a um nível de estarrecimento que provoca o ócio. 

E nada se altera. 

Por que é assim que ele quer.

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